sexta-feira, 18 de julho de 2014

Tempo. Como você é cruel comigo!

São 6h da manhã. Acordo, sem despertador, assustada. Pulo da cama e corro pra cozinha. A sensação era de estar atrasada e, mesmo com o corpo moído pela maratona de ontem, eu tinha que enfrentar o dia. Uma encomenda de mini trufas me esperava. Uma hora depois, escuto o Matheus me chamar, ainda na cama. Quando chego lá perto, com as mãos sujas de massa de trufa, veio o pedido. "Mãe, deita aqui comigo?". Eu não podia. Estava no meio da receita, que iria desandar se eu não continuasse o processo. O pedido foi recusado e explicado. E ele, meio emburrado, adormeceu novamente. Mais meia hora, acorda o Rafa chorando e pedindo pela mãe. Deitei ao lado dele, ele estava meio assustado, provavelmente tinha tido algum pesadelo. Tentei acalmá-lo e, minutos depois, pegou no sono. Eu, rapidamente, corri pra cozinha e continuei meu trabalho. 

Mas a cabeça não estava nas trufas. Estava nos e-mails que eu tinha que enviar e no texto que eu tinha que terminar pra pauta da próxima semana. Eram 8 da manhã e eu já estava angustiada com tantos afazeres (e muitos já feitos) do dia! Torcendo pros meninos dormir até mais tarde, pro meu dia render mais. Queria fazer o máximo possível antes deles acordarem, para conseguir dar um pouco de atenção aos pequenos depois. Mas eram tantos afazeres... E eu pensando na casa que tinha pra ajeitar, nos doces que tinha que entregar, nos textos a serem feitos e nos filhos pra cuidar. E, claro, que a conclusão foi: O que estou fazendo da minha vida? Estou vivendo ou apenas sobrevivendo? E, pior, como ficarão os meninos sendo criados nessa rotina de corre-corre e vendo a mãe enlouquecer para cumprir prazos e fazendo duas, três, quatro coisas ao mesmo tempo (em tempo recorde!)? 

Fiquei mal. Muito mal. Quando decidi sair do jornalismo diário foi exatamente para ter mais qualidade de vida e ser mais presente na vida dos meus filhos. A decisão foi tomada quando eu ainda estava grávida do Rafael. Eu ficava angustiada de ter horário pra entrar na redação e nunca saber qual horário voltaria pra casa. Plantões pra mim viraram um sacrifício. Quantas e quantas vezes o Matheus, com apenas dois anos, dormiu numa poltrona de redação ao meu lado, num domingo a tarde, depois de tanto chorar em casa que queria a mãe. O que antes fazia parte da minha vida, virou um grande martírio. Queria mudar. Não estava feliz. E foi aí que decidi que poderia trabalhar, ser mãe e ser feliz de outra maneira. Passei a trabalhar em casa, fazer freelas e os doces voltaram à minha rotina como uma segunda fonte de renda. Nunca abandonei o jornalismo (minha paixão), mas agora conseguia ter o tempo que tanto queria para estar presente na vida dos meus filhos. 

Mas a correria do dia a dia começou a me alucinar. Eu tinha o tempo livre para estar com eles, mas aos poucos foram surgindo tantas obrigações em nossa rotina, que esse tempo era preenchido com horários e regras duras. Dia da fono, dia da psicóloga, dia da natação, dia do futebol, consulta na pediatra, retorno na otorrino. E assim, nossas  agendas estavam quase sempre preenchidas. E, nessa agenda repleta de compromissos ainda precisava encontrar tempo pros doces, pros textos, pras entrevistas. E nessas horas a paciência fica mais curta, os conflitos acontecem, os atritos surgem... 

Muitas vezes ouvi do Matheus "Tô cansado! Para um pouco". E isso me angustiava. Aos poucos, os afazeres diminuíram... as consultas na pediatra ficaram mais espaçadas, a fono deu alta, a psicóloga resolveu aumentar o intervalo entre as sessões, enfim, o tão sonhado tempo começou a aparecer em nossas vidas como uma luz no fim do túnel... o tempo ocioso, aquele que podemos fazer nada e ao mesmo tempo curtir, se curtir, se conhecer, trocar aprendizados... Mas sou ansiosa, muitas vezes me pego aceitando mais compromissos e trabalhos do que eu realmente posso fazer. Me desdobro, não durmo, trabalho de madrugada, enquanto eles dormem. Faço o que posso para estar livre ou pelo menos ter um tempinho do dia destinado à eles. Nem sempre dá... e escuto coisas do tipo. "Você não sai desse computador!" ou "Vem assistir um filme com a gente no sofá!". Eu explico, conversamos e eles, na medida do possível compreendem. 

Mas esse texto começou por que eu gostaria de ter podido deitar ao lado dele hoje às 7h da manhã quando ele me chamou... Fazer um chamego, jogar conversa fora, vê-lo adormecer novamente. As vezes dá, claro. Mas nem sempre... É a vida, eu sei. Trabalhar é preciso. Mas se eu optei por ter mais tempo exatamente para poder viver e não apenas sobreviver... É nessas horas que o conflito aparece e a angustia surge. E que vem a certeza... TEMPO queria ter mais de você em minha vida! 



Tempo pra viver a vida e "saborear" cada momento
especial, como esse, da foto!

E você, já pensou como está lidando com seu tempo? Deixe seu depoimento, aqui no blog (em comentários). 

Um comentário:

  1. Adriana li seu texto e chorei com você! Parece meu espelho ... isso é mau das sagitarianas??!!! Affff
    eu também quero um tempo maior ... cadê ele ... tanta correria, tanta obrigação, tanta dor, e ao mesmo tempo alegria .... ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
    Eu quero um clone! rsrsrs
    bjks
    sam

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