quinta-feira, 3 de julho de 2014

FILHO - Sim, tenho dois filhos do mesmo sexo. E daí?

Eu já era mãe de um menino de três anos, quando descobri que estava grávida novamente. Assim que a novidade foi anunciada, começaram os comentários. "Ah, que legal, tomara que agora venha a menina!" ou então "Poxa vida, tomara que você não tenha puxado sua mãe, que teve três meninos!" . O engraçado é que ninguém sequer perguntava qual era o meu desejo, a minha vontade. E, pior ainda, era como se ter outro menino fosse um castigo, uma decepção. Se os tais comentários já eram desagradáveis no início, eles se superaram depois que o sexo do baby foi anunciado: "Outro menino? Paciência, o importante é que venha com saúde!". Aff. Como assim? Já foi "castigada", agora que pelo menos a criança tenha saúde? Meu Deus, quantas bobagens essa barriga... ops, esses ouvidos escutaram ao longo dos nove meses. 


Matheus e Rafael: amigos
acima de tudo!
É impressionante como as pessoas não tem noção do que falam. Primeiro, pela indelicadeza. Ninguém escolhe o sexo do filho numa prateleira de supermercado. A mãe pode até ter uma preferência, mas isso não significa que ela será "atendida". E no meu caso eu queria muito que o segundo filho fosse um menino e explico por que. Sou a única filha entre três irmãos homens. Cresci vendo a cumplicidade dos três, a união, as disputas, as brigas e os muitos momentos de alegria e afinidades. Sempre quis ter uma irmã! Mas como caçula, meu desejo não pode ser atendido! A fábrica tinha sido fechada, como dizia minha mãe! Quando fiquei grávida pela segunda vez, logo no início, pensei "Tomara que o Matheus tenha um irmão!". Naquele momento o desejo era dele ter um companheiro, um amigo pra todas as horas, um cúmplice nos momentos de alegria e tristeza. Claro, que uma irmã poderia ser parceira também. Mas acreditava que essa proximidade seria maior entre irmãos de mesmo sexo. E ficava incomodada com tanta expectativa em torno de uma menina. E, pior, ficava chateada com a decepção das pessoas com a possibilidade e, depois a confirmação, de que era outro menino. 

Hoje, meu mundo é azul. Confesso que não me imagino brincando de boneca. Meu cotidiano é repleto de carrinhos, partidas de futebol, latinhas que imitam sons de "pum". É... meninos muitas vezes são nojentos... sem pudor... mas são livres, dão risadas de coisas bobas, se divertem com pouco ou quase nada. Não sinto um vazio (pelo menos por enquanto!) por não ter uma menina em minha vida. E fico chateada quando sinto essa reação das pessoas diante de situações como essa. Eu mesma já presenciei dezenas de pessoas dando "bola fora" quando sabem que o uma grávida terá "de novo" outro menino, ou outra menina. Como se a felicidade fosse completa somente com um casalzinho dentro de casa. 

E como não estou sozinha nesse barco, resolvi botar o assunto "na roda". Abaixo estão os depoimentos de outras mães, que assim como eu, têm filhos de mesmo sexo e estão muito de bem com a vida. 


A pedagoga Lígia Carvalho sentiu na pele isso tudo. Mãe de três meninos, ela ouviu muitos
Pedro, João e Miguel:
sempre juntos!
comentários e viu muita expectativa em torno da chegada de uma possível menininha em casa.
"Ficava sem graça quando as pessoas criavam aquela esperança de que um dia eu teria uma menina, mas pra mim o que importava é que meu filho viesse com saúde e não o sexo do bebê. As pessoas diziam tomara que venha uma menina dessa vez e eu respondia Pra que? Vai vir o que Ele quiser", diz. Os seus três meninos tem uma diferença de quase cinco anos cada um: Pedro Henrique, 10, João Vitor, 4, e Miguel, 4 meses. "Quando os mais velhos souberam que ganhariam mais um irmão foi um momento de muita alegria. Assim daria pra jogar no vídeo-game de três!. Essa foi a resposta deles", diverte-se lembrando. E conclui: "Eles estão sempre juntos no mesmo grupo, seja jogando bola, seja trocando figurinhas ou batendo papo. Acredito que se eles fossem de sexo diferente não teriam tantas afinidades como tem hoje", diz. 








Camila e Bruna: caçula é fã da
irmã mais velha!
A pedagoga Fátima Messias, mãe de Camila, 12, e Bruna, 7, revela: "Confesso que secretamente eu queria outra menina! Então quando soube do resultado, fiquei muito feliz", relembra. "As pessoas começaram a trabalhar com a ideia de eu ter um menino. Analisavam o formato da minha barriga, diziam que meu rosto estava diferente e coisas do gênero. Quando eu dei a notícia, parece que elas queriam me consolar, dizendo que assim era melhor, por que eu já estava acostumada a cuidar de menina, que seria mais fácil decorar o quarto e blá blá blá", conta. A diferença de idade hoje não favorece muito a interação. "Eu tenho que ficar lembrando a
Camila, que a irmã tem apenas 7 anos e por isso é infantil mesmo!", diz. Mas há admiração entre as duas. "A Bruna admira mais a irmã e tudo o que acontece corre pra contar. Quando eu percebo que a Camila não ouve com muita atenção, trato logo de preparar o ambiente. Quando não dá tempo fico atrás fazendo gesto pra Camila fazer cara de admiração. E acho que ela até se acostumou com isso, por que agora sempre exclama quando a pequena conta as coisas", ri. "Mas a Camila também admira coisas na Bruna, coisas que ela fala, faz e até mesmo aspectos físicos da irmã", conclui. 



A dona de casa Mariléia Ockner Rezende também reina absoluta em sua casa, rodeada de meninos. Mãe de Felipe, 9 anos, e Arthur, 4 anos, ela conta o quanto o segundo filho foi desejado pelo irmão mais velho. "Felipe já tinha até escolhido o nome do irmãozinho. Detalhe, só tinha escolhido nome para menino! E vivia planejando o momento que o irmão iria buscá-lo na escola com a mãe. Antes mesmo do irmão nascer", relembra. "Não sei se era decepção, mas todos os parentes próximos perguntavam e ainda perguntam, se não
Felipe e Arthur: admiração de um pelo outro
vamos tentar uma menina!"
, ri. E a resposta é: "Gostaria, mas não está nos planos. Mas se acontecer a torcida por mais um menino aqui é grande e já tem até nome escolhido faz tempo. Mas, claro, se for uma menina será amada do mesmo jeito", conclui. Mas o que mais encanta é a admiração que um tem pelo outro. "Arthur admira o talento do irmão mais velho para desenhar e pintar. Felipe acha o máximo a facilidade com que o irmãozinho tem de se aproximar das outras crianças. No final, estão sempre juntos e o mais velho sai feliz dizendo que os amiguinhos do irmão são muito legais", diz. 







Giovanna (frente) e Giulianna: amigas e companheiras
A pedagoga Márcia Wieck relembra que ficou tão feliz ao saber que a filha mais velha teria uma companheira, que nem se importou com a expectativa dos outros. "Eu queria tanto que minha filha nascesse sadia e perfeita, que o que menos importava naquele momento era se fosse formar um casal ou a opinião dos outros", conta. O mesmo sexo e a diferença de idade de apenas um ano e dez meses favoreceu e muito a afinidade entre Giovanna, 17, e Giulianna, 15 anos. "Elas brigam, como todos os irmãos, mas são muito amigas e confidentes", conta. Outra característica comum entre filhos de mesmo sexo é a 'sociedade' em roupas e brinquedos. "A Giulianna sempre usou roupas que foram da Giovanna e compartilhavam os mesmos brinquedos. Hoje, que são moças, cada uma tem as suas coisas, mas vez ou outra estão trocando e emprestando roupas e acessórios", conta. "Acredito que as duas tem a mesma porcentagem de admiração uma pela outra. Na maioria das vezes estão juntas. Mas cada uma com seu estilo e personalidade", finaliza. 




Adélia Ribeiro, proprietária do Atelier Chá de Boneca, conhece bem o universo azul. Única
Matteo e Enrico: o mais velho pedia para a mãe lhe
dar um irmão!
mulher entre dois irmãos homens, é também mãe de dois moleques - Matteo, 7, e Enrico, 4 anos. "Fiquei muito feliz e tranquila quando soube que esperava mais uma menino, pois o mais velho havia pedido um irmão para brincar", lembra. "Não senti decepção entre as pessoas, mas até hoje, vez ou outra, alguém me pergunta se vou tentar a menina", diverte-se e afirma que a "fábrica fechou".  A amizade e cumplicidade entre eles é o mais importante. "Como toda relação de irmãos, conflitos existem, mas também existe carinho e cumplicidade. Quando eu dou uma bronca em um, o outro logo vem em defesa do irmão", diz. "O mais velho é como um espelho pro caçula. O menor tende a gostar de tudo o que o maior gosta e vive pedindo ajuda pro irmãozão, como por exemplo, passar de fase no jogo de vídeo-game. Eles brincam muito juntos quando estão em casa", conclui. 






As duas Ana´s: afinidade, ciúme e muito
 carinho entre as irmãs!
Mãe de duas meninas, a vendedora Karen Ramiro, diz que ficou muito feliz quando soube que esperava outra menina. "Sentia uma certa decepção em algumas pessoas ao saber a notícia, mas o mais curioso é que todos falavam o mesmo - 'Depois você tenta o menino'! Como se fosse um consolo!", relembra. Apesar da diferença de idade de seis anos, o amor e a amizade entre as duas é visível. "Acho que por ser do mesmo sexo a afinidade é maior. Mas o ciúmes também aumenta, viu...", conta a mãe de Ana Beatriz, 7, e Ana Carolina, 1 aninho. Segundo ela, a personalidade das duas é bem distinta. A primogênita demonstra mais carinho com a caçula, mas a pequena não vive sem a irmã por perto. "Cada uma tem uma personalidade, um jeitinho", diz. E será que virá um menino nessa família? "A minha intenção não é ter mais filhos, porém meu marido quer sim tentar o menino", diz. Resta saber se virá um menino ou mais uma princesa pra esse castelo. 





Agradecimento especial às mamães que participaram dessa matéria: Ligia, Fátima, Márcia, Leia, Adélia e Karen






5 comentários:

  1. Bom pelo menos daqui todas as mães ficaram felizes com a oportunidade de ter mais um filho independente do seu sexo. Assim como eu o que viesse seria muito amado e desejado pela família. Confesso que os irmãos sempre torcem pelo msm time mas são crianças, é normal que eles queiram alguém para ser seu companheiro. Inconvenientes são os que dizem que se vc tiver um casal vc tem sorte, vc não precisa ter mais filhos, pronto vc ja está realizada. Mas na minha percepção sou a pessoa mais feliz mais SORTUDA e realizada como mãe de três, isso msm, TRÊS MENINOS.

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  2. Dri não sei pq mas saiu como anônimo. Arruma aí por favor. Bjs Ligia Carvalho

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  3. Amei a matéria! !
    Sou mãe de duas fofinhas e sou mega feliz por isso. Meu sonho era ter um menino... Quando estávamos planejando nosso primeiro filho eu já via tudo azul. Quando soube que teríamos uma menina (Júlia) fiquei meio que perdida... Como assim? Mas fiquei feliz...
    Saí da consulta e passei por uma barraquinha de camelô onde tinham várias "xuxinhas" rosas, tiarinhas rosas... Meu Deus, um mundo rosa? Sim, um mundo rosa daquele momento em diante... Aliás, dois mundos rosas hoje; Júlia (11 anos) e Gabriela (7 anos)... e uma mãe mega feliz!!!!!!!

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  4. Oi Adriana tudo bem?compartilhei seu texto no Facebook,porque acho que muitas mamães passam por isso,obrigada amei de coração!

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  5. Tenho um menino Felipe de 6 anos e estou gravida de outro menino! E muitoooo feliz pois Felipe já havia escolhido o nome do irmãozinho antes mesmo de eu estar grávida! Leonardo! Tenho um irmão mas acredito que se tivesse uma irmã teria mais proximidade e cumplicidade, irmãos do mesmo sexo acabam sendo mais amigos, por isso sempre desejei um segundo menino e tb passei e passo ainda por esses comentários desagradáveis....

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