Sempre pensei que tiraria de letra o segundo filho, afinal já possuía a experiência de ser mãe. Caí do cavalo! Tirando a parte prática - digo: dar banho, amamentar, trocar fraldas -, todo o resto é novidade, afinal são dois seres distintos, com personalidades, temperamentos, qualidades e defeitos completamente diferentes. Ensinando, cuidando e educando meus meninos, descubro a cada dia que tenho muito a aprender com cada um deles. E são essas experiências que pretendo registrar por aqui.
quarta-feira, 23 de julho de 2014
De repente encontrei uma Dona Otávia dentro de mim!
De repente me senti a Dona Otávia. Dona Otávia era uma senhora que morava na minha rua, no final dos anos 70, início dos 80, que não pensava duas vezes quando uma bola caia no seu quintal: furava sem dó! Dona Otávia era temida pelos moleques que jogavam futebol na rua. Ciumenta com seu jardim e dona de uma das roseiras mais lindas do quarteirão, ela acreditava que a bola que caia muro adentro de sua casa podia estragar suas plantas. Avisava, botava medo nos meninos e, quando a redonda teimava em cair no seu quintal, Dona Otávia entrava em ação. Sem pensar, sem pestanejar. Era o fim daquela pelota. Sem dó, nem piedade.
Ontem a noite estávamos em casa todos reunidos para construir a maquete que o Rafa precisa levar para a escola no retorno das férias. É seu trabalho de férias! Não era o melhor momento. Eu estava cansada, havia pedido pro marido adiantar o processo durante o dia (mas isso não aconteceu!), estava com a cabeça nas minhas pautas que eu ainda tinha que produzir. Mas, resolvi me dedicar ao trabalho do pequeno naquele momento. O Rafa, o maior responsável por aquilo tudo, estava disperso. Vez ou outra resolvia passar cola no chão da sala, em seguida queria picar o papel que seria usado na maquete, trazia carrinhos pro meio do trabalho. E eu chamava a sua atenção. "Assim não, Rafa", "Para com isso, Rafa!", "Vem fazer seu trabalho!". E nada... ele não estava a fim... queria brincar... não era o momento certo. Mas, e quando é o melhor momento se eu não estou de férias e não tenho o dia todo para focar no trabalho de escola? Tinha que aproveitar o tempo que restava... e aquele era o momento.
Tudo estava caminhando bem e eu até que estava conseguindo contornar a falta de atenção do Rafa até que ele aparece com uma espada de bexiga, que ganhou em uma festa no domingo. Rafa começou a circular com a espada no meio do trabalho. Quase caiu dentro da o caixa, onde a maquete estava sendo construída. Colocava a espada no rosto do irmão. No nariz do pai, Na orelha da mãe. O sangue foi subindo. A paciência foi esgotando. E, depois de pedir várias, várias vezes para ele parar, não resisti: estourei o balão! Sem pensar, sem pestanejar. Igual a Dona Otávia!
Todo mundo parou e ficou olhando pra minha cara! Sim, eu era a doida, naquele momento, reconheço. Rafa, que minutos antes estava irritando todo mundo e não estava nem aí pras nossas chamadas, congelou. Parecia uma estátua. De repente começou a pegar os pedaços do balão, que ficaram espalhados no chão. E, segundos depois, caiu num choro sentiiiiiiido e prolongado. "Quero minha espada de volta!", dizia inconsolável tentando juntar os pedaços.
Na hora lembrei da Dona Otávia e pensei. "Nossa, acho que era assim que ela furava as bolas. Avisava. Pedia. Orientava. Mas como não obedeciam, ela era tomada por um ímpeto, uma raiva, uma ação sem pensar (ou não!) para resolver de uma vez aquilo tudo!". De repente eu me enxerguei naquela velhinha que eu tanto temia.
Claro que não fiquei feliz com o ocorrido. Confesso que até tive um medinho de mim mesma nessa hora. "Meu Deus, o que mais eu seria capaz de fazer sem pensar? Bater? Machucar? Não, não... melhor nem pensar nisso agora...". Mas disso tudo fica uma reflexão. As crianças nos testam o tempo todo. Algumas mais, outras menos. Rafa, aqui em casa, é o mais. Ele vai até o fim, não tem medo do que vem pela frente. É daquele tipo que quer ser o último a falar, mesmo que recebe uma ameça "Se você falar isso de novo, vai ser punido por isso, vai ficar de castigo!". Ah, não tenha dúvidas, ele fala e, depois, chora arrependido.
No fundo acho que até o Rafa é um pouquinho Dona Otávia. Faz sem pensar. Não obedece. Não escuta, muitas vezes, a orientação que é dada. E, depois se arrepende. Dessa vez, o preço foi o balão... a espadinha de balão... que pagou o pato e foi pro beleléu...
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Dri, todos temos nossos momentos de D. Otávia, e eles servem de aprendizado para muitas coisas, nenhuma mãe é perfeita e nenhum filho quer isso. Eu tenho certeza que você já faz muito, pare de se cobrar tanto. Bj
ResponderExcluirAqui em casa também tem uma D Otávia Dri, e acredito ser normal, impossível ser cem por cento constantemente. A jornada da mãe é bem cansativa e temos que estar sempre driblando alguns obstáculos .... normal amiga. E nem por isso somos bruxas, mas sim humanas
ExcluirAdriana, minha era a dna Lazinha, bola caída, bola ⚽ perdida...kkkkkk mas todos nós temos esses momentos. O que precisamos atentar é se são só momentos ou os momentos é são a maioria. Aí cumprica... Rsrsrs
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