As férias estão chegando ao fim! E na próxima segunda-feira algumas escolas já retomam as aulas. As sensações são diversas. Tem mãe (e pai) que não vê a hora das aulas voltarem, assim terão algumas "horas de sossego". Tem outros que acabam se acostumando tanto com os pequenos em casa, que sentem falta da "bagunça" durante o dia. Tem criança que não vê a hora de reencontrar os amigos e voltar à rotina escolar. Tem outros que gostariam que as férias continuassem por mais alguns dias... O fato é agora é hora de retomar as atividades escolares, conhecer a nova professora, a nova sala de aula, para alguns, até o novo colégio, reencontrar velhos amigos e, quem sabe, amigos novos que surgirão pelo caminho. Mas e para quem está começando agora na escola? A ansiedade e expectativa é grande. Tanto dos pais, quanto dos pequenos. Será que a adaptação será tranquila? Será que o filho (a) vai gostar do ambiente escolar? Será que fiz a escolha certa? São muitas dúvidas e questionamentos, que surgem nessa hora. E não tem como evitar esse momento de apreensão. Pesquisar vários colégios, conhecer a metodologia de ensino, sentir-se segura com profissionais e a estrutura oferecida são pontos importantes. E, chegada a hora, é viver um dia de cada vez sempre observando o retorno que a criança traz para casa.
Abaixo o relato emocionante de uma mãe, que sentiu na pele o que é uma adaptação escolar difícil, mas que hoje, passados dois anos, reconhece que a filha é feliz na escola.
"O primeiro contato da Eloísa com a escola eu já imaginava que seria difícil devido ao apego que ela tinha comigo e à insegurança que sentia perto de pessoas desconhecidas. Para minha surpresa, o primeiro dia de aula foi tranquilo. Ela tinha, na época, 2 anos e 6 meses e ficou entusiasmada com o uniforme, a mochila e quando percebeu que estava vestida igual às outras crianças do colégio ficou muito feliz. Então fomos até a sala de aula e, quando ela sentou com os amiguinhos para brincar, a professora pediu que eu me retirasse sem ser percebida. Segui a orientação e fui para a área reservada para pais de crianças em fase de adaptação. Passados cerca de 40 minutos começa a choradeira. Eu escutava de onde estava, sabia que era ela, mas ninguém vinha me buscar. Os gritos foram aumentando e 30 minutos depois eu não aguentei e fui espontaneamente até lá. Quando ela me viu foi um desespero e o resultado disso foi a recusa progressiva pela escola. O desespero dela foi tanto que no quinto dia de aula, mesmo sendo dia de festa a fantasia, ela não parou de chorar. Nos poucos momentos em que ela parava, ficava apenas no canto com sua bonequinha completamente isolada do grupo. Procurei a coordenação do colégio, que não me deu nenhum respaldo. Apenas disseram que se eu quisesse tirá-la do colégio e colocá-la mais adiante seria melhor, pois assim ela já estaria mais madura.
Isso me rendeu um trabalho enorme com ela, que já não dormia direito e não se afastava de mim nem por um instante. Ela chegava a abrir mão de brincar em festas para ficar grudada em mim. Resultado: tratamento psicológico onde fui orientada a procurar uma escola pequena e com uma adaptação mais personalizada. Hoje, acredito que o fato de eu ter saído e a deixado na sala sem avisar gerou uma insegurança muito grande. O colégio também não soube lidar com a situação e acabou não ganhando a confiança dela.
Passado um ano, lá fomos nós procurar um novo colégio para a minha filha. E, o pior, preocupados em imaginar como seria a nova adaptação. A escola atual foi escolhida simplesmente por ter sido a única que se propôs a ouvir a minha estoria e por ter permitido um processo de adaptação mais personalizado. À princípio convidaram ela para participar do curso de férias de forma gratuita para ela ir se familiarizando com o ambiente e com os novos amigos e tudo isso sempre acompanhada por mim. Mesmo assim não foi fácil. Ela chorava e não queria se afastar de mim em instante algum. Foi um trabalho de formiguinha. A escola percebeu que o desespero dela era maior do que o das outras crianças e orientaram a gente a mudá-la para o período da manhã, que tinha a turma com um perfil parecido com o dela. Mesmo assim, depois de uns 20 dias na escola, o choro continuava, mesmo comigo por perto. Aos poucos, eu e a escola, percebemos que ela estava adaptada, mas que fazia um pouco de manha para não se "desgrudar" da mãe. Eu, a professora, coordenadora e até a psicóloga na época achamos que ela estava preparada para o tal tratamento de choque, ou seja, para ficar na escola sem a minha presença. Ela sabia que a partir daquele dia teria que se despedir de mim no portão do colégio. Claro, que não foi fácil. Chorou muito, grudou em mim, berrou e chegou até a vomitar. Mesmo assim fomos firmes e ela entrou. Alguns minutos depois uma funcionária da escola veio lá fora pedir a minha bolsa para mostrar pra ela que eu estava lá, do lado de fora, esperando por ela. Por sua vez, trouxeram um vídeo para me mostrar que ela estava brincando com os amiguinhos sem chorar. E isso também me tranquilizou. Esse "novo" processo de adaptação levou uns três meses para que ela conseguisse finalmente entrar na escola sem chorar.
Descobri que "cada caso é um caso" e no meu caso foi indispensável uma adaptação especial. A Eloísa tinha o que chamamos de pavor da escola. Ela tremia, suava frio e ficava pálida quando entrava no ambiente escolar. E esse colégio foi o único que me permitiu ess adaptação gradativa onde até o pediatra já havia proposto, mas o primeiro colégio não aceitou alegando que atrapalharia o andamento da turma. Tanto para mim, quanto para a Eloísa foi ótimo. Pudemos nos adaptar em doses homeopáticas, pois a minha confiança foi ficando cada vez maior vendo o andamento da escola. E mesmo tendo que passar pelo tal "tratamento de choque", foi só quando eu pude perceber que ela já tinha criado um grande vínculo afetivo com as professoras e com todos os colegas. Ela já conhecia aq uelas pessoas, já convivia com eles diariamente e pode se adaptar no tempo dela.
As férias de julho foi um divisor de águas. Tive receio de que o tempo fora da escola atrapalhasse novamente a relação dela com o colégio. Mas ela voltou normalmente, sem estresse e tranquila. Foi a prova de que ela realmente estava adaptada e feliz com o ambiente escolar.
Não sabemos como será esse ano. Penso que será menos traumático do que antes, afinal o ambiente é familiar, os amigos e funcionários também. Ela está feliz e diz que quer voltar, principalmente para usar a mochila nova de princesa que ganhou. Diz também que está sentindo saudades dos amigos. Mas só resta aguardar para saber como será de fato.
Disso tudo ficou uma lição para mim. Se perceber que seu filho tem o mínimo de insegurança diante dos professores e do ambiente escolar não deixem eles na base do choque não. Acompanhe de perto e faça a adaptação até que perceba que a insegurança sumiu e ficou apenas uma birra (se ficar). Percebo que se na primeira escola tivessem feito isso, com certeza em duas ou três semanas ela estaria familiarizada e não teria tido tantos traumas e sofrimento. Não foi fácil. Exigiu muita paciência nossa (pai e mãe) e principalmente da escola, que não desistiu de ajudá-la. Na época eu li muito, muito mesmo sobre esse assunto e escutei inúmeros profissionais da área como pediatra, pedagogos e psicólogas. Cada um defende uma tese. Tem os que acreditam que tem que deixar a criança chorar no primeiro dia e tem aqueles que defendem a ideia da adaptação progressiva. Eu senti na pele que a adaptação é algo individual e que deve ser voltada para cada criança individualmente. Cada caso é um caso.
O ponto principal que ganhou a minha confiança e a da Eloísa nesse colégio foi o fato de não existir uma receita pronta para todas as crianças, pois percebi que eles respeitam a diferença e a individualidade da criança. Tanto no processo de adaptação, quanto nas atividades ao longo do ano como apresentações de teatro e festas de fim de ano. Esse tratamento personalizado fez toda a diferença para ela se adaptar e aceitar ficar ali.
Confesso que eu mesma já não acreditava mais que tudo entraria nos eixos. Mas com muita paciência, finalmente, a minha filha se adaptou à rotina escolar. Hoje ela já escreve o próprio nome sozinha e se sociabiliza muito mais facilmente com adultos e crianças. É uma criança muito feliz! Não foi nada fácil. Mas o pior já passou!
Depoimento de Eliane Fortunato, fisioterapeuta e mãe de Eloisa Fortunato Corchesck, de 4 anos.
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Eliane e Eloísa: juntas venceram a adaptação na escola! |