Para entreter seus filhos durante as terríveis viagens a bordo dos tumbeiros - pequenos navios que fazia o transporte de escravos entre África e Brasil - as mães africanas, sem ter praticamente nada, rasgavam retalhos das barras de seus vestidos e a partir deles criavam pequenas bonecas, feitas de tranças ou nós, que serviam como amuleto de proteção e brinquedos também para suas crianças. As bonecas, que se tornaram uma espécie de símbolo da resistência, foram chamadas de Abayomi, um termo que quer dizer "encontro precioso".
As bonecas não possuem costura alguma e nem demarcação de olho, nariz e boca. O acabamento final pode ser um vestido bem colorido e um turbante bem característico na cultura africana.
Foi uma atividade de muita entrega e cumplicidade entre mães e filhos. Os meus meninos, por exemplo, tiveram mais dificuldade em fazer os pequenos nós, que demarcam cabeça, mãos e pés, e nessa hora a mãe aqui entrava em ação. Percebi que eles ficaram admirados em perceber que pequenos retalhes de tecido, aos poucos, iam se transformando numa boneca. E fiquei muito feliz em perceber que eles (e todos os outros meninos presentes) não ficaram em nenhum momento resistentes ou constrangidos por fazer bonecas.
Não preciso nem falar que foi uma experiência incrível, né? Além de aprender a construir uma bonequinha tivemos uma baita aula de história, cultura e reflexão social. Os meninos adoraram e ficaram tocados em imaginar que a realidade das crianças escravizadas era muito, muito diferente da vida que eles levam hoje.
Um momento muito bacana, que certamente ficará em nossa memória para sempre.
Olha como ficaram nossas Abayomi´s: